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Página:Aureliano José Lessa - Poesias posthumas (1873).pdf/51

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Á TARDE


I


Lá descanbou o sol. Vai descorando
Manso e manso o setim vivo-ceruleo
E as vermelhas folhagens que recamam
O concavo do céo. Transluz no occaso
Por debil prisma cambiante facho
De semi-mortaes côres, que se perdem
No azul ferrete do nocturno manto.
Nevadas franjas fluctuando em flócos
Erram nas abas do docel da tarde,
Como da seda azul, que a moça traja,
Candida renda guarnecendo as orlas.
Galerna a viração farfalha, e brinca
Na coma da palmeira; o mar soluça
Espojando na praia; e a selva freme
Exhalando ineffavel harmonia,
Que os genios do ermo timidos murmuram.