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SONETO
Ha tormentos sem nome, ha desenganos
Mais negros que o horror da sepultura;
Dôres loucas, e cheias de amargura,
E momentos mais longos do que os annos.
Não são da vida os passageiros damnos
Que dobram minha fronte;—a desventura
Eu a desdenho… A minha sorte dura
Fadou-me dentro d’alma outros tyrannos.
As dores d’alma, sim; ella sómenle
Algoz de si, acha um prazer cruento
Em torturar-se ao fogo lentamente.
Oh! isto é que é soffrer!—nenhum tormento
Vale um gemido só d’alma tremente,
Nem seculos as dôres de um momento!