e Gazellas, etc. Consultareis, se quizerdes, os Authores da Altanaria, sobre o modo de os apanhar, de os desseinar, de os ensinar conforme o particular genio de cada huma destas aves. Desta maneira (segundo o Doutor Jaquin) a Parra machuã, como hum rafeiro, acompanha as aves domesticas dos Americanos pelo mais intrincado dos seus matos, e não só affugenta os Abutres, e Açores, e outras aves de rapina ; mas tambem lhes tira a vida. Os Chins fazem as suas pescarias com o Pelicano pescador (a)[1], cingindo-lhe o pescoço com huma argola eril. Além destes, ainda se dão muitos outros casos semelhantes. Das pennas se usão para escrever, etc. das plumas, ou pennugens para se encherem colxões, almofadas e travesseiros, e para estes se preferem as das Adens.
Podem-se fazer pelas aves muitos prognosticos economicos : o Gallo, como hum relogio, com o seu gallicanto em tempo certo, e determinado, isto he, ás tres, e quatro da manhã desperta os Lavradores, e Campinos. A Motacilla alveloa (b)[2], seguida do seu inimigo o Falcão francelho (c)[3], quando apparece, annuncia o primeiro dia d'agomação das plantas. O Cuco canoro com o seu canto apregoa o principio da primavera no primeiro dia do desabrolhamento das folhas das arvores, e, com elle pela ultima vez no derradeiro da frutificação fecha esta bellissima estação do anno, o Ampelo golhelheiro, ou garrulo aponta o mez da congelaçào. A Emberiza da neve, quandonos apparece, adivinha hum rigorosissimo inverno. O Phaetonte ethereo avisa aos navegantes a estada entre os tropicos. A Procellaria do Cabo os certifica da sua chegada a este Africano promontorio. A Procellaria do pego, ao formar-se o temporal, empoleirando-se na poppa, e proa dos navios, os adverte do eminente perigo. O Corvo Gralha pousando cost'avento faz de ventuinha, e aponta deste modo o rumo de que vem. O Laro gargantão, serve de sinal ao cardume da Clupea harenque. Os Mergulhões pescadores arrebanhão o peixe para as praias. O Corvo corax com o seu grasnido apregoa nos matos a jazeda dos cadaveres dos animaes.
NAõ são menores os deleites, que as aves
aves causão aos nossos sentidos : por quanto os olhos se recreão com a variedade das suas côres áureas tão maravilhosamente matizadas. Por isto a todo o custo se trazem d'Africa, e de Levante as Garças apavonadas, e a donzela que são de hum infinito valor, para ennobrecer com ellas os Aviarios dos Grandes, e pelo mesmo fim se sustenta nelles a Rainha das Aves o Pavão, que a tudo embelleza pela preciosa louçainha das suas estrelladas joias. O Trochilo beija-flor (d)[4] com o encendrado ouro das saias acatassoladas pennas, bebendo o mellifluo nectar das flores, alheia de si aos que encarão. Se ainda nos embaimos com algumas aves (o Yungo, e o Noitibo) sómente pela galantaria do seu colorido cinzento, e manchado de preto. Para que mais ?
Deleitão-se os nossos ouvidos pela suavidade do seu canto cheio de mil modulações, trinados, e gorgeos, que com nenhuma outra cousa póde ser comparado, a não ser com a cithara de Orpheo, se for certo que movia as pedras, e domava as feras. O Tordo musico diverte com seu dulcissimo canto as enfadonhas, e compridas tardes do estio. Os montes,