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Página:Batalha de Oliveiros com Ferrabraz.pdf/10

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Eu sou Guarim de Lorenda.
Oliveiros respondeu
Hoje foi que succedeu
Dar a primeira contenda.
E lhe digo que se renda
Que o lavarei com amor,
Fique sabendo o senhor
Hoje não pode escapar
Eu hoje tenho de o levar
Preso ou morto ao meu senhor.

O turco disse-lhe assim:
Teu rei é muito malvado
Pois pega um pobre soldado
Sem causa quer dar-lhe fim.
Porque em tu vires a mim
E’ ser muito louco ou bôbo,
E’ como fazer um roubo
A quem não possue dinheiro,
E’ atirar um cordeiro
Dentro da jaula de um lôbo.

Oliveiros já massado
Disse-lhe: turco és um louco…
Levanta-te, senão com pouco
Hei de feril-o deitado.
Que tempo tem se passado!
Nessas tuas discussões
Eu não vim ouvir razões
Vim ao campo pelejar,
Tu és franco no fallar
Vamos vêr tuas acções.

Ferrabraz sem se alterar
Lhe disse: espera Guarim,
Peço que digas a mim
O que vou te perguntar.
Então pôz-se a indagar
Com a falla muito mansa
Como quem pensa e descança.
Perguntou a Oliveiros:
—Como são os cavalleiros
Que formam os pares de França?

Oliveiros disse assim:
Roldão tem bôa estatura
Oliveiros na figura
E’ mesmo que vêr a mim,
Guy de Borgonha, Bofim,
Ricardo são quasi iguaes,
Pegou n’um, é um voraz,
Porem emquanto a Roldão
Em coragem e coração
O mundo não terá mais.