Página:Brasileiras celebres (1862).djvu/156

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Notas

1 A Espanha, tão fértil na produção de grandes gênios, deve gloriar-se de ter dado o berço a santa Teresa de Jesus, virgem que se dedicara ao culto do Senhor, poetisa que exalçara a glória de Deus, em versos cheios de doçura e melancolia, religiosa que reformou e instituiu numerosos claustros.

Santa Teresa de Jesus, filha de Afonso de Céspede e Beatriz de Ahumade, nasceu em Ávila, a mais bela das cidades, que outrora entravam na demarcação da antiga Lusitânia, em 1515; faleceu em 1582 aos 67 anos de idade, e foi canonizada em 1615 pelo papa Paulo V.

Acendeu-se-lhe a devoção ainda em tenros anos, o pensamento sublime da imortalidade d'alma lhe borbulhava de contínuo na mente e de contínuo repetia como que extasiada: “Para sempre! Para sempre! Para sempre!” Não contava ainda 15 anos, quando ardendo no desejo de ir procurar entre os infiéis a gloriosa palma do martírio, abandonou a casa de seus pais, acompanhada apenas de seu irmão Afonso de Céspede, aquele que ela mais estimava dentre três irmãos e oito irmãs, que tinha, o qual havia nascido no mesmo dia que ela, mas quatro anos antes, e que depois morreu desastrosamente na conquista do Rio da Prata, em combate contra os indígenas. Surpreendidos em sua fuga por um parente, foram conduzidos à casa paternal e asperamente repreendido por seus pais. Exigiram então no jardim umas como celazinhas e ali convertiam as horas de recreio em horas de orações e místicas leituras.

Sua mãe, que era muito dada a leitura de romances de cavalaria, então em voga, e que seu marido aborrecia, inspirou-lhe tão viva paixão por eles, que ajudada de seu predileto irmão, veio a compor também um romance neste gênero, com belas aventuras, com riquíssimas ficções, e sobre o qual, diz o padre dom Francisco da Ribeira, seu biógrafo, muito havia que dizer.

Desejando enclaustrar-se para poder seguir mais livremente a vida