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Não ſe contenta a gente Portugueſa:
Mas ſeguindo a victoria eſtrue, & mata
A pouoação ſem muro, & ſem defeſa,
Esbombardea, acende, & desbarata.
Da caualgada ao Mouro ja lhe peſa,
Que bem cuidou comprala mais barata:
Ia blasfema da guerra, & maldizia,
O velho inerte, & a mãy que o filho cria.

Fugindo, a ſeta o Mouro vay tirando,
Sem força, de couarde, & de apreſſado,
A pedra, o pao, & o canto arremeſſando,
Dalhe armas o furor deſatinado:
Ia a Ilha, & todo o mais, deſemparando,
Aa terra firme foge amedrontado.
Paſſa, & corta do mar o eſtreito braço,
Que a Ilha em torno cerca, em pouco eſpaço.

Hũs vão nas almádías carregadas,
Hum corta o mar a nado diligente,
Quem ſe affoga nas ondas encuruadas,
Quem bebe o mar, & o deita juntamente:
Arrombão as meudas bombardadas
Os Pangaios ſotis da bruta gente.
Desta arte o Portugues em fim caſtiga,
A vil malicia, perfida, inimiga.