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Deſta gente refreſco algum tomamos,
E do rio freſca agoa, mas com tudo
Nenhum ſinal aqui da India achamos
No pouo com nos outros caſi mudo:
Ora vê Rey quamanha terra andamos
Sem ſair nunca deſte pouo rudo,
Sem vermos nunca noua, nem ſinal,
Da deſejada parte Oriental.

Ora imagina agora quam coitados
Andariamos todos, quam pardidos,
De fomes, de tormentas quebrantados
Por climas & por mares não ſabidos:
E do eſperar comprido tão canſados
Quanto a deſeſperar ja compellidos,
Por ceos não naturais, de qualidade
Inimiga de noſſa humanidade.

Corrupto ja & danado o mantimento
Danoſo & mão ao fraco corpo humano,
E alem diſſo nenhum contentamento
Que ſequer da eſperança foſſe engano:
Cres tu que ſe eſte noſſo ajuntamento
De ſoldados, não fora Luſitano,
Que durara elle tanto obediente
Por ventura a ſeu Rey & a ſeu regente?