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E foy que de doença crua & feya
A mais que eu nunca vi, deſempararão
Muitos a vida, & em terra eſtranha & alheia
Os oſſos pera ſempre ſepultarão:
Quem auerâ que ſem o ver o creya
Que tão disformemente ali lhe incharão,
As gingiuas na boca, que crecia
A carne, & juntamente apodrecia.

Apodrecia cum fetido & bruto
Cheiro, que o âr vizinho inficionaua,
Não tinhamos ali medico aſtuto,
Sururgião ſutil menos ſe achaua:
Mas qualquer neste officio pouco inſtructo
Pella carne ja podre aſsi cortaua,
Como ſe fora morta, & bem conuinha
Pois que morto ficaua quem a tinha.

Em fim que neſta incognita eſpeſſura
Deixamos pera ſempre os companheiros,
Que em tal caminho & em tanta deſuentura
Forão ſempre com noſco auentureiros:
Quam facil he ao corpo a ſepultura
Quaeſquer ondas do mar, quaeſquer outeiros,
Estranhos, aſsimeſmo como aos noſſos,
Receberão de todo o illuſtre os oſſos.