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Aſsi que deſte porto nos partimos
Com mayor eſperança & mòr triſteza,
E pella coſta abaixo o mar abrimos
Buſcando algum ſinal de mais firmeza:
Na dura Moçambique em fim ſurgimos,
De cuja falſidade & mâ vileza
Ia ſeras ſabedor, & dos enganos
Dos pouos de Mombaça pouco humanos.

Ate que aqui no teu ſeguro porto,
Cuja brandura & doce tratamento,
Darâ ſaude a hum viuo, & vida a hũ morto,
Nos trouxe a piedade do alto aſſento:
Aqui repouſou, aqui doce conforto,
Noua aquietação do penſamento
Nos deste, & vês aqui ſe atente ouuiſte,
Te contey tudo quanto me pediste.

Iulgas agora Rey ſe ouue no mundo
Gentes que tais caminhos cometeſſem?
Crês tu que tanto Eneas & o facundo
Vliſſes, pello mundo ſe eſtendeſſem?
Ouſou algum a ver do mar profundo
Por mais verſos que delle ſe eſcreueſſem,
Do que eu vi, a poder desforço & de arte,
E do que inda ei de ver, a oitaua parte?