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Diuina guarda, angelica, celeſte,
Que os ceos, o mar & terra ſenhoreds,
Tu que a todo iſrael refugio deſte
Por metade das agoas Eritreas:
Tu que liuraſte Paulo & defendeſte
Das Syrtes arenoſas & ondas feas,
E guardaste cos filhos o ſegundo
Pouoador do alagado & vacuo mundo.

Se tenho nouos medos perigoſos
Doutra Scylla & Caribdis ja paſſados,
Outras Syrtes, & baxos arenoſos,
Outros Acroceraunios infamados,
No fim de tantos caſos trabalhoſos,
Por que ſomos de ti deſemparados,
Se eſte noſſo trabalho não te offende,
Mas antes teu ſeruiço ſo pretende?

O ditoſos aquelles que puderão
Entre as agudas lanças Affricanas
Morrer, em quanto fortes ſostiuerão
A ſancta Fe, nas terras Mauritanas:
De quem feitos illuſtres ſe ſouberão,
De quem ſicão memorias ſoberanas,
De quem ſe ganha a vida com perdella,
Doce fazendo a morte as honras della.