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Eſpantado ficou da gram viajem,
O mouro qne Monçaide ſe chamaua,
Ouuindo as opreſſoẽs que na paſſajem
Do mar, o Luſitano lhe contaua,
Mas vendo em fim, que a força da menſajem
So pera o Rei da terra releuaua,
Lhe diz que eſtaua fora da cidade.
Mas de caminho pauca quantidade.

E que em tanto que a noua lhe chegeſſe
De ſua estranha vinda, ſe queria
Na ſua pobre caſa repouſaſſe,
E do manjar da terra comeria:
E deſpois que ſe hum pouco recreaſſe,
Coelle pera a armada tornaria,
Que alegria não pode ſer tamanha,
Que achar gente vezinha em terra eſtranha.

O Portuegues aceita de vontade
O que o ledo Monçaide lhe offerece
Como ſe longa fora ja a amizade,
Coelle come & bebe, & lhe obedeçe:
Ambos ſe tornão logo da cidade,
Pera a frota, que o Mouro bem conheçe,
Sobem aa Capitaina, & toda a gente
Monçaide recebeo benignamente.