Página:Camões Os Lusíadas Page274 137r.jpg

Wikisource, a biblioteca livre


O quanto deue o Rei que bem gouerna,
De olhar que os conſelheiros, ou priuados,
De conſciencia, & de virtude interna,
E de ſincero amor ſejam dotados:
Porque como estè paſto na ſuperna
Cadeira, pode mal dos apartados
Negocios, ter noticia mais inteira,
Do que lhe der a lingoa conſelheira.

Nem tam pouco direy que tome tanto
Em groſſo, a conſciencia limpa & certa
Que ſe enleue num pobre & humilde manto,
Onde ambição a caſo ande encuberta,
E quando hũ bom em tudo he juſto & ſancto
E em negocios do mundo pouco acerta,
Que mal coelles poderâ ter conta,
A quieta inocencia, em ſo Deos pronta.

Mas aquelles auaros Catuais,
Que o Gentilico pouo gouernauão,
Induzidos das gentes infernais,
O Portugues deſpacho dilatauão:
Mas o Gama, que não pretende mais,
De tudo quanto os Mouros ordenauão,
Que leuar a ſeu Rei hum ſinal certo
Do mundo, que deixa deſcuberto.