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Aſsi que ô Rey, ſe minha grão verdade
Tẽs por qual he, ſincera, & não dobrada,
Ajuntame ao deſpacho breuidade,
Não me impidas o goſto da tornada:
E ſe inda te parece falſidade,
Cuyda bem na razão que eſta prouada,
Que com claro juyzo pode verſe,
Que facil he a verdade dentenderſe.

A tento eſtaua o Rey na ſegurança,
Com que prouaua o Gama o que dezia,
Concebe delle certa confiança,
Credito firme, em quanto proferia,
Pondera, das palauras ha abastança,
Iulga na autoridade grão valia,
Começa de julgar por enganados
Os Catuais currutos, mal julgados.

Iuntamente a cobiça do proueyto,
Que eſpera do contrato Luſitano,
O faz obedecer, & ter reſpeyto,
Co Capitão, & não co Mauro engano:
Enfim ao Gama manda, que direyto
Aas naos ſe vâ, & ſeguro dalgum dano
Poſſa a terra mandar qualquer fazenda,
Que pela eſpeciaria troque, & venda.