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Materia he de Coturno, & não de Soco
A que a Nimpha aprendeo no immenſo lago:
Qual Yopas não ſoube, ou Demodoco,
Entre os Pheaces hum, outro em Carthago.
Aqui minha Caliope te inuoco
Neste trabalho extremo, porque em pago,
Me tornes, do q̃ eſcreuo, & em vão pretendo,
O goſto de eſcreuer, que vou perdendo.

Vão os annos decendo, & ja do Eſtio
Ha pouco que paſſar ate o Otono,
A fortuna me faz o engenho frio,
Do qual ja não me jacto, nem me abono:
Os deſgoſtos me vão leuando ao rio
Do negro eſquecimento, & eterno ſono,
Mas tu me dâ que cumpra, ò grão Rainha
Das Muſas, cô que quero aa nação minha.

Cantaua a bella Deoſa, que virião
Do Tejo, pello mar que o Gama abrîra,
Armadas que as ribeiras vencerião,
Por onde o Oceano Indico ſoſpira:
E que os Gentios Reis, que não darião
A ceruiz ſua ao jugo, o ferro & yra
Prouarião do braço duro & forte,
Ate renderſe a elle, ou logo aa morte.