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Cantaua dhum que tem nos Malabares
Do ſumo ſacerdocio a dignidade,
Que ſo por não quebrar cos ſingulares
Baroẽs, os nos que dera damizade,
Sofrerâ ſuas cidades & lugares,
Com ferro, incendios, ira & crueldade
Ver deſtruir do Samorim potente:
Que tais odios terâ coa noua gente.

E canta como la ſe embarcaria
Em Bellem o remedio deste dano,
Sem ſaber o que em ſi ao mar traria
O grão Pacheco, Achiles Luſitano:
O peſo ſentirão, quando entraria,
O curuo lenho, & o ſeruido Oceano,
Quando mais nagoa os troncos, que gemerem,
Contra ſua natureza ſe meterem.

Mas ja chegado aos fins Orientais,
E deixado em ajuda do gentio
Rey de Cochim,com poucos naturais,
Nos braços do ſalgado & curuo rio,
Desbaratarâ os Naires infernais
No paſſo Cambalão, tornando frio
Deſpanto o ardos immenſo do Oriente
Que verâ tanto obrar tão pouca gente.