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XV


CIUME


Não sabe com certesa o que é ciume,
O que é sentir no peito, em vida, gelo,
Pegar no coração e contorcel-o,
Subir da raiva e do odio ao negro cume.

Não sabe o que é do amor o ardente lume...
Sonhar um vasto ceu e comprehendel-o,
Para ver, cruelmente, desfasel-o,
Na sombra da illusão, voraz negrume.

Não sabe, não, senhora!... ai! se o soubesse,
Se o podesse antever, se o comprehendesse,
Estrangulando a vida, á voz do amor...

Por mais cruel que fosse não daria
A uma alma, irmã da sua, essa agonia
Vendo-a morrer em convulsões de dor.