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XIX


DEPOIS DA MORTE


Se a crua morte te arrancar um dia
Dos braços meus, ó pomba estremecida!
Irá no teu caixão a minha vida,
Do meu amor a doce melodia.

Quando sentires collada a terra fria
Sobre o gelado peito e comprimida
A nivea face que a beijar convida
E que continuamente beijaria;

Hasde ouvir minh'alma, suspirando,
Muito de manso, como um tenue alento,
No canto triste do nocturno bando.

Escuta, então, meu lugubre lamento...
No ceu, serena, a lua irá passando,
Por sobre a terra gemerá o vento.