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LVII

Se sois de nós, se nós das vossas gentes,
São coisas que nós todos ignoramos,
Pois de paterno chão sempre contentes,
Doutras terras e tempos não cuidamos;
Mas vós, que os mares passeais ingentes,
Podereis inferir se os que aqui estamos,
Depois que de um pai só todos nascemos,
Com alguns entre vós nos parecemos,

LVIII

Que, se em vós houve ou há quem assim trate,
Quem se governe assim, quem edifique,
Ou quem com armas, como nós combate,
Quem todo à caça, como nós se aplique;
Sé há quem devore os homens quando os mate,
A quem o feroz vulto imberbe fique,
Desde Tamandaré, que é pai das gentes,
Podemos crer que são nossos parentes.

LIX

Conserva-se num povo o antigo rito,
Se o não altera o rito do estrangeiro,
E sempre algum vestígio fica escrito
Por tradição do século primeiro
Vós sabereis, se a história tenha dito,
Que houve tempo em que o mundo quase inteiro,
Sem sabermos uns dos outros se habitasse,
E, como nós erramos, tudo errasse.