Página:Caramuru 1781.djvu/106

Wikisource, a biblioteca livre
LXXV

Deve a humana geral sociedade,
Para gozar da paz com doce laço,
Vincular dos mortais a variedade
De um consórcio feliz no caro abraço.
Deu-nos o céu por órgão da amizade,
Deu-nos como outra mão, como outro braço,
A consorte, em que o amor com fé excite,
Não por pasto brutal de um apetite.

LXXVI

E houvera sem prisão que tão suave,
Dominando entre os homens desde o Averno
A discórdia cruel e a inveja grave,
A conter-se o himeneu no amor fraterno.
Nasce do amor a paz: o amor é a chave,
É o doce grilhão, vínculo eterno,
Que, se o vil interesse algum desune,
Os peitos abre e os corações nos une.

LXXVII

Movidos deste fim por são costume,
Julgaram nossos pais na antiga idade
Que se ofende no incesto o impresso lume,
Como contrário à paz da sociedade.
E, se do céu preside o santo Nume
Ao sossego da triste humanidade,
Quem duvida que estime pouco honesto
Conhecer-se os irmãos com feio incesto?