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LXXVIII

Entre nós, quem elege a esposa amada
Pede ao pai ou parente; e, sem pedi-la,
Não se julgara a fêmea desposada,
Por deixar a família assim tranqüila;
Que, se órfã fosse acaso abandonada,
Só pertence ao vizinho o permiti-la
E, convindo ou seu pai ou seu parente,
É sem mais matrimônio de presente.

LXXIX

Furto entre nós não há: de que há de havê-lo?
O que há, come-se logo; e, sem que o enfade,
Um tira doutro o que acha, por comê-lo;
E anda ao pé da pobreza a caridade.
A calúnia, a traição, o amargo zelo
Tem por pena a comum inimizade:
Nem há, se o entendo bem, maior castigo
Que o mundo todo ter por inimigo.

LXXX

Outra lei depois desta é fama antiga,
Que observada já foi das nossas gentes;
Mas ignoramos hoje a que ela obriga,
Porque os nossos maiores, pouco crentes,
Achando-a de seus vícios inimiga,
Recusaram guardá-la, mal contentes.
Alas da memória o tempo não acaba,
Que pregara Sumé, santo emboaba.