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XV

Cupaíba que empunha a feral maça
Guia o bruto esquadrão da crua gente;
Cupaíba que os míseros que abraça,
Devora vivos na batalha ardente,
À roda do pescoço um fio enlaça,
Onde, de quantos come, enfia um dente;
Cordão, que em tantas voltas traz cingido,
Que é já, mais que cordão, longo vestido.

XVI

Urubu monstro horrendo e cabeludo,
Vinte mil Ovecates fero doma;
Por toda a parte lhe encobria tudo
Como terrível figura a hirsuta coma.
Monstro disforme, horrendo, alto e membrudo,
Que a imagem do leão rugindo toma,
Tão feio, tão horrível por extremo,
Que é formoso a par dele um Polifemo.

XVII

Fogem todo o comércio da mais gente;
Ou se se vissem a tratar forçados,
Que lhe possam chegar nenhum consente,
Senão trinta, ou mais passos apartados.
Se alguns se chegam mais, por imprudentes,
Como leões, ou tigres esfaimados,
Mordendo investem os que incautos foram,
E a carne crua, crua lhes devoram.