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XXXVI

Mas teme o seu trovão: e tanto oprime
O medo aquele vil, que não pondera
Que por esse trovão, que não reprime,
Há de ver cheia de trovões a esfera?
Que grande mal será, se o raio imprime?
Se o mundo por um raio se perdera,
Susto pudera ter, cobrar espanto;
Porém more de medo, que é outro tanto.

XXXVII

Eu só, eu próprio, no geral desmaio,
Ao relâmpago irei sem mais socorro;
E, quando ele dispare o falso raio,
Ou descubro a impostura, ou forte morro.
Será de nigromancia um torpe ensaio,
Com que astuto pretende, ao que discorro,
Fazer que a nossa tropa desfaleça,
Antes que a causa do terror conheça.

XXXVIII

Que se for (que o não creio) o estrondo infando
Do sublime Tupá triste ameaça,
Fará como costuma, trovejando,
Que, matando um ou outro, a mais não passa.
Se eu vir que o raio horrível vai vibrando,
A um homem como eu, nada embaraça:
Se for mortal quem causa tanto abalo,
Por meio ao próprio raio irei matá-lo.