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LXXV

Corre a turba feroz contra a donzela,
Que, depois que das armas deixa o peso,
Descobre a todos a presença bela,
E fica quem a prende ainda mais preso.
Da rude multidão, que corre a vê-la,
Há quem de a ver tão linda fica aceso,
Outro que de a ter visto em guerra armada
Ainda a teme com vê-la desmaiada.

LXXVI

Logo que respirou, novo ar tomando,
Sente no coração mais desafogo,
E alento pouco a pouco vai cobrando,
Até que, entrando em si, chama o seu Diogo;
Mas, na turba que a cerca reparando,
Conhece-se cativa, e desde logo
Noutro fero desmaio fica absorta,
E cuida quem a vê que ficou morta.

LXXVII

Selvagem há que cuida de comê-la,
Nem muito se está morta se assegura;
E com fúria voraz contra a donzela
A gula acende com a chama impura.
Nem presar-se costuma a forma bela
No fero coração da gente dura;
E, em morrendo qualquer mulher, ou homem,
Choram muito e depois assam-no e comem.