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VI

Quantos criar pudera que o servissem,
Deixando de criar quem o agravasse,
Onde todos a vê-lo ao céu subissem,
E as obras que produz todas salvasse?
Nossos pais, se dos filhos tal previssem,
Quanto fora cruel quem os gerasse!
E creremos da excelsa grã-bondade
Que ceda a nossos pais na humanidade?"

VII

"Segredos são (diz Diogo) da inscrutável
Majestade de Deus: que saberemos
Do seu modo de obrar sempre inefável,
Se o que somos e obramos não sabemos?
Faltando-nos razão clara e provável
Nos conselhos de Deus, que ocultos vemos,
E bem que toda a dúvida se acabe,
Porque ele pode mais, do que o homem sabe.

VIII

"Mas, se há lugar à humana conjetura
Dos possíveis na longa imensidade,
Não se podia achar uma criatura,
Que goze de impecável liberdade.
Uma firme inocência é graça pura,
É mercê liberal da Divindade,
E quem entanto a perguntar se atreve,
Por que lha não quis dar quem lha não deve?