Página:Caramuru 1781.djvu/167

Wikisource, a biblioteca livre


LX

Vendo Diogo o infeliz quanto padece
No modo de penar mais desumano,
Maior a tolerância lhe parece
Do que possa caber num peito humano.
E, como autor do crime reconhece
Do cruel sogro o coração tirano,
Oferece a Bambu, que a morte ameaça,
Socorro amigo na cruel desgraça.

LXI

"Perdes comigo o tempo (disse o fero);
Ao que vês, e ainda a mais vivo disposto.
A liberdade, que me dás, não quero,
E da dor, que tolero, faço gosto.
Assim vingar-me do inimigo espero."
Disse; e, sem se mudar do antigo posto,
As picadas cruéis tão firme atura,
Como se penha fora, ou rocha dura.

LXII

"Se o motivo, diz Diogo, por que temes,
É porque escravo padecer receias,
E tens por menos mal este, em que gemes,
Do que uma vida em míseras cadeias,
Depõe o susto, que sem causa tremes;
Penhor te posso dar, por onde creias,
Depondo a obstinação do torpe medo,
Que a vida e liberdade te concedo."