Página:Caramuru 1781.djvu/179

Wikisource, a biblioteca livre
XVIII

Ergue-se sobre o mar alto penedo,
Que uma angra à raiz tem, das naus amparo,
Onde das ramas do entrechado enredo
Causa o verde prospeto um gosto raro.
Ali, morro coberto de arvoredo
A quem passeia o mar serve de faro;
Dão-lhe nome da costa os experientes
Do glorioso apóstolo das gentes.

XIX

Aqui vê Diogo um casco, que encalhara,
Onde n'água se oculta hórrida penha,
Porque, ignorando a costa, se arrojara,
Sem que esperança de socorro tenha.
Vê, como a chusma em terra se salvara,
Que a brutal gente cativar se empenha;
E, presumindo o que era, na canoa
A defender os seus remando voa.

XX

E, temendo que cedam enganados
Ao bárbaro cruel os naufragantes,
Ou que fiquem sem armas cativados
Nas mãos desses penhascos ambulantes,
Faz-lhes sinais e deixa-os avisados,
Fazendo ver as armas rutilantes,
Da areia infinda e do cruel perigo,
E o seu socorro lhes of’rece amigo.