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XLII

Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
- Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.

XLIII

Choraram da Bahia as ninfas belas,
Que, nadando, a Moema acompanhavam;
E, vendo que sem dor navegam delas,
A branca praia com furor tornavam.
Nem pode o claro herói sem pena vê-las,
Com tantas provas que de amor lhe davam;
Nem mais lhe lembra o nome de Moema,
Sem que ou amante a chore, ou grato gema.

XLIV

Voava entanto a nau na azul corrente,
Impelida de um zéfiro sereno,
E do brilhante mar o espaço ingente
Um campo parecia igual e ameno.
Encrespava-se a onda docemente,
Qual aura leve, quando move o feno,
E, como o prado ameno ris costuma,
Imitava as boninas com a escuma.