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LXVI

Nem se demora mais a forte armada;
E, convidando o vento, estende a vela.
Corre a bárbara gente amontoada
Ao embarque das naus da tropa bela;
E, ao que pode entender-se, magoada
Por saudade, que tem de mais não vê-la,
Com acenos e voz enternecida
Faziam a seu modo a despedida.

LXVII

Mais saudosos os tristes desterrados,
Correndo imenso risco a língua aprendem,
Recebendo alimentos comutados
Pelas espécies que ao gentio vendem;
Talvez os têm coa cítara encantados,
Talvez com cascavéis todos suspendem;
Mas o objeto que a vista mais lhe assombra
É ver dentro do espelho a própria sombra:

LXVIII

Extático qualquer notando admira
Dentro ao Cristal a horrível cara;
Pergunta-lhe quem é, como se ouvira,
E, crendo estar no inverso o que enxergara,
De uma parte a outra parte o espelho vira
E, não topando o vulto na luz clara,
Tal há que o vidro quebra, por ver dentro
Se a imagem acha que observou no centro.