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III

Paraguassu, porém, que jamais vira
Espetáculo igual, suspensa pára:
Nem fala, nem se volta, nem respira,
Imóvel a pestana e fixa a cara
E cheia a fantasia do que admira,
Causa lhe tanto pasmo a visão rara,
Que estúpida parece ter perdido
O discurso, a memória, a voz e o ouvido.

IV

Qual pende o terno infante ao colo da ama,
Se um novo e belo objeto tem presente,
Que nem a doce mãe, que ao peito o chama,
Nem os mimos do pai pasmado sente,
Toda alma no que vê fixo derrama,
E só parece pelo olhar vivente,
Não foi da americana o ar diverso,
Vendo em Paris a suma do universo.

V

Por fama que se ouviu da novidade,
A admirar o espetáculo se ajunta
Curiosa do sucesso a grã-cidade,
E um se admira, outro o conta, algum pergunta.
Cresce o vago rumor sobre a verdade;
E a plebe, que a Diogo acode junta,
Dele e da esposa divulgada tinha
Que era o rei do Brasil e ela a rainha.