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XXX

Mas já três vezes tinha a lua enchido
Do vasto globo o luminoso aspecto,
Quando o chefe dos bárbaros temido
Fulmina contra os seis o atroz decreto.
Ordena que no altar seja oferecido
O brutal sacrifício em sangue infecto,
Sendo a cabeça às vítimas quebrada
E a gula infanda de os comer saciada.

XXXI

Entanto que se ordena a brutal festa,
Nada sabiam na marinha gruta
Os habitantes da prisão funesta,
Que ardilosa lho esconde a gente bruta;
E, enquanto a feral pompa já se apresta,
Toda a pena em favor se lhe comuta.
Nem parecem ter dado a menor ordem,
Senão que comam e comendo engordem.

XXXII

Mimosas carnes mandam, doces frutas,
O araçá, o caju, coco e mangaba;
Do bom maracujá lhe enchem as grutas,
Sobre rimas e rimas de goiaba;
Vasilhas põem de vinho nunca enxutas,
E a imunda catimpoeira, que da baba
Fazer costuma a bárbara patrulha,
Que só de ouvi-lo o estômago se embrulha.