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XII

Ao ver beleza tanta, o pensamento,
Que a linda imagem surprendia absorto,
Ouve no centro d'alma um doce acento
Que o peito enchia de vital conforto.
E, como infunde às plantas novo alento
O matutino orvalho em fértil horto,
Tal dos doces influxos na abundância
Dentro d'alma eu senti nova constância.

XIII

"Catarina (me diz), verás ditosa
Outra vez do Brasil a terra amada;
Faze que a imagem minha gloriosa
Se restitua de vil mão roubada!"
E assim dizendo, nuvem luminosa,
Como véu, cobre a face desejada,
E faz que na memória firme exista
Entre amor e saudade a doce vista.

XIV

Assim conclui Catarina, enchendo
De duvidoso assombro a companhia.
Que imagem fosse aquela, iam dizendo,
Ou qual deles acaso a roubaria?
Se a Mãe de Deus, mistérios envolvendo,
Doutra cópia interior o entenderia,
Ou queria talvez que em santo trato
Se restitua n'alma o seu retrato?