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XLV

"Bom ministro (responde) do Piedoso,
Excelso grão-Tupá, que o céu modera,
ao me vens novo, não, que tive o gosto
De ouvir-te em sonho já, quem ver pudera!
Se a imagem tens, que o sono fabuloso
Há muito que de ti na mente gera!
Serás, disse (e na barba o vai tocando),
Homens com barbas, branco e venerando.

XLVI

Louvores a Tupá, que enfim chegaste;
Que o caminho me ensinas, donde elejo
Buscar logo o grão-Deus, que me anunciaste,
Que desde a infância com ardor desejo.
Nunca soube, assim é, quanto contaste;
Mas, não sei como, o que ouço e quase vejo
Sentia, como em sombra mal formada;
Não que o cresse ainda assim, mas por toada.

XLVII

Vendo desse universo a mole imensa,
Sem ser de ainda maior entendimento,
Fabricada a não cri; que ele o dispensa,
Tem, rege e guarda, infere o pensamento.
Que repugna à criatura estar suspensa,
Sem ultimo fim ter, notava atento.
E este ente, que me fez um Deus segundo,
O grão-Tupá, fabricador do mundo.