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XLV

Olha entanto suspensa a gente bruta,
E os excessos que vê cuidando admira;
Nem concebe nas vozes que lhe escuta
Se prazer seja, se de dor suspira;
Mas, como a imagem celestial reputa,
Quanto à dama piedosa obrando vira
Qualquer à imitação fazer deseja,
E este a adora, outro a abraça, e aquele a beija.

XLVI

O lusitano e franco religioso
Veneraram com fé prodígio tanto,
Lembrando-se do sonho portentoso
Com claro indício do presságio santo,
Enquanto o brutal povo numeroso
Tudo nota em um êxtase de espanto,
Até que a um templo em pompa veneranda
A pia multidão a imagem manda.

XLVII

Por santa invocação foi aclamada
A senhora da Graça, e com fé pia
Foi desde aquele dia venerada
Singular Protetora da Bahia.
Igreja primitiva dedicada
Em meio às trevas dessa gente impia,
Memorável (se a fama é verdadeira)
Porque em todo o Brasil fora a primeira.