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LVII

Mulher tive, mas uma, persuadido
Que com uma se pode; ação impura
Meteu-me sempre horror, tendo entendido
Que só no matrimônio era segura;
Qualquer outro prazer fora proibido,
Porque, se entanto abuso se conjura,
Quem, seguindo esse instinto do demônio,
Se pudera lembrar do matrimônio?

LVIII

Nunca roubei, temendo ser roubado;
Por conservar a fama, honrei a alheia;
Não me lembra de ter caluniado,
Nem de outrem disse mal, que é coisa feia:
E quem houvesse de outro murmurado
Que outro tanto lhe façam certo creia;
Não tive inveja do que alguém consiga,
Por ver que quem a tem seu mal castiga.

LIX

Enfim, corri meus anos desde a infância
Sem ofender (que eu saiba) esta lei justa,
Sem ter à coisa boa repugnância,
Tudo mercê da mão de Deus augusta.
Nos meus males somente a tolerância
Mos fazia passar a menor custa:
Esta a minha ânsia foi, este o meu zelo,
Saber quem era Deus, tratá-lo e vê-lo."