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LXXXI

Têm no colo as cruéis sacerdotisas,
Por conta dos funestos sacrifícios,
Fios de dentes, que lhes são divisas
De mais ou menos tempo em tais ofícios.
Gratas ao céu se crêem de que indivisas
Se inculcam por tartáreos malefícios
E um testemunho do mister nefando,
Nos seus cocos com facas vêm tocando.

LXXXII

Quem pode reputar que dor trespassa
A miseranda infausta companhia,
Vendo tais feras rodear a praça,
Que o sangue com os olhos lhe bebia?
Ver que os dentes lhe range por negaça,
Senão é que os agita a fome ímpia,
E dizer la consigo. "Em poucas horas
Sou pasto destas feras tragadoras".

LXXXIII

Mas põe-lhe a vista o Padre Onipotente,
Da desgraça cruel compadecido,
E envia um anjo desde o Céu clemente,
Que deixe tanto horror desvanecido
E faça que o espetáculo presente
Venha por fim a ser sonho fingido;
Que quem recorre ao céu no mal que geme,
Logo que teme a Deus, nada mais teme.