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LXXXIV

Seis então dos infames Nigromantes
Lançaram mão das vítimas pacientes,
E a seis lenhos fatais, que ergueram d’antes,
Atam cruéis as mãos dos inocentes:
Postos no céu os olhos lacrimantes,
Com lembrar-se das penas veementes
Que sofreu Deus na cruz, nele fiados
Pediam-lhe o perdão dos seus pecados.

LXXXV

Fernando ali, que em discrição precede,
Com voz sonora a companhia anima,
Cheio de viva fé, socorro pede;
E, quando a dor permite que se exprima:
"Grão-Senhor (diz) de quem tudo procede,
A glória, a pena, a confusão e a estima,
Que justo dás as graças e os castigos,
Na dor alívio, amparo nos perigos;

LXXXVI

Vida não peço aqui, morte não temo,
Nem menos choro o caso desgraçado.
O que me dói, que sinto, o que só gemo
É, piedoso Deus, o meu pecado!
Feliz serei, Grão-Padre, se no extremo
For da tua bondade perdoado,
Pelo cálix amargo que aqui bebo,
Pela morte cruel que hoje recebo.