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LXXXVII

Mas, grande Deus, que vês nossa fraqueza
No duro transe desta cruel hora,
Não sofras que essas feras com crueza
Hajam de devorar a quem te adora;
Porque estremece a frágil natureza
Vendo a gula brutal, que emprende agora
Sacrifício fazer ao torpe abismo
Destas carnes tingidas no batismo!"

LXXXVIII

Ouviu o céu piedoso a infeliz gente;
E, quando o fero a maça já levanta,
Que esmaga a fronte ao mísero paciente,
Trovão se ouve fatal, que tudo espanta.
Treme a montanha e cai a roca ingente
E na ruína as árvores quebranta;
Mas o que mais os brutos confundia,
Era o rumor marcial que se então ouvia.

LXXXIX

Pedras, frechas e dardos de arremesso
Cobriam tudo o ar; porque o inimigo,
Que atrás se pôs de am próximo cabeço,
Aguarda expressamente aquele artigo.
De um lado e outro deste um mato espesso
Ameaça o furor, cerca o perigo;
E a gente crua, transformada a sorte,
Quanto cuidou matar, padece a morte.