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XV

Gupeva, que no trajo mais distinto
Parecia na turba do seu povo,
O principal no mando, meio extinto
Pelo horror do espetáculo tão novo,
Tremendo em pé ficou, sem voz e instinto.
E caíra sem dúvida de novo,
Se nos braços Diogo o não tomara
E de água ali corrente o borrifara.

XVI

"Não temas (disse afável), cobra alento."
E, suprindo-lhe acenos o idioma,
Dá-lhe a entender que todo esse armamento
Protege amigos, se inimigos doma;
Que os não ofende o bélico instrumento,
Quando de humana carne algum não coma.
"- Que, se a comerdes, tudo em cinza ponho..."
E, isto dizendo, bate o pé, medonho.

XVII

"Toma nas mãos (lhe diz), verás que nada
Te hão de fazer de mal." E, assim falando,
Põe-lhe na mão a partasana e espada,
E vai-lhe à frente o morrião lançando.
Diminui-se o horror na alma assombrada
E vai-se pouco a pouco recobrando.
Até que a si tornando reconhece
Donde está, com quem fala e o que lhe of’rece.