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XXI

O lume da razão condena a empresa;
Pois, se o infando apetite o gosto adula,
Para extinguir a humana natureza,
Sem mais contrários, bastaria a gula.
Que se a malícia em vós ou se a rudeza
O instinto universal de todo anula,
É contudo entre os mais coisa temida
Que outrem, por vos conter, vos tire a vida."

XXII

Disse Diogo, e conduzia à gruta
O principal da bárbara caterva,
Que ali seguido pela gente bruta,
O lugar conhecido atento observa.
Gupeva a tudo atende e tudo escuta,
Mas sempre o horror, que concebeu, conserva;
E, olhando às armas, sem que a mais se arroje,
Chega com mão furtiva, apalpa e foge.

XXIII

Vinha a noite já então seu negro manto
Despregando na lúcida atmosfera,
Quando buscam sossego ao seu quebranto
No ninho as aves e na toca a fera,
E quando o sono com suave encanto,
Aos míseros mortais a dor modera;
Mas não modere em Diogo a mordaz cura
De amansar o furor da gente dura.