Página:Caramuru 1781.djvu/56

Wikisource, a biblioteca livre


XXIV

Por dissipar na gruta a sombra fria,
Toma o férreo fuzil que, o fogo ateia,
E, vendo a rude gente que o acendia
E brilhar de improviso uma candeia,
Notando a pronta luz, que no óleo ardia,
Não acaba de o crer de assombro cheia.
Crêem, portanto, que o fogo do céu nasça
Ou que Diogo nas mãos nascê-lo faça.

XXV

Era o costume do selvagem rude,
Roçar um lenho noutro com tal jeito,
Que vinha por elétrica virtude,
A acender lume, mas com tardo efeito.
Mas, observando, sem que o lenho o ajude,
Em menos de um momento o fogo feito,
O menino imaginou que a Grécia creu,
Quando viu ferir fogo a Prometeu.

XXVI

Acesa a luz na lôbrega caverna,
Vê-se o que Diogo ali da nau levara:
Roupas, armas, e em parte mais interna,
A pólvora em barris, que transportara.
Tudo vão vendo à luz de uma lanterna,
Sem que o apeteça a gente nada avara,
Ouro e prata, que a inveja não lhe atiça,
Nação feliz, que ignora o que é cobiça!