Página:Caramuru 1781.djvu/58

Wikisource, a biblioteca livre


XXX

Peçamos, pois que é mãe, que nos defenda,
Que te dê para ouvir dócil orelha
E contigo o teu povo recomenda."
Dizendo o herói assim, devoto ajoelha.
Gupeva o mesmo faz com fé estupenda
E pendente de Diogo, que o aconselha,
Levanta as mãos, como ele levantava,
E, vendo-o lacrimar, também chorava.

XXXI

Mas crendo rude, como então vivia,
Que fosse coisa vive a imagem santa,
Que por mãe de Tupá tudo saía,
Tendo poder conforme a glória tanta,
Repete o que ouve a Diogo com voz pia
E à mãe de Deus o coração levanta.
E encostando entre os rogos a cabeça,
Faz a noite e o desvelo que adormeça.

XXXII

Já o purpúreo, trêmulo horizonte,
Rosas parece que espalhava a aurora;
E o sol que nasce sobre o oposto monte,
A bela luz derrama criadora.
Ouvem-se as avezinhas junto à fonte,
Saudando a manhã com voz sonora;
E os mortais, já o sono desatados,
Tornavam novamente aos seus cuidados.