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LI

"De Tupá sou (lhe disse) onipotente
Humilde escravo e como vós me humilho;
Mas do horrendo trovão, que arrojo ardente,
Este raio vos mostra que eu sou filho.
(Disse e outra vez dispara incontinente)
"- Do meio do relâmpago, em que brilho,
Abrasarei qualquer que ainda se atreva
A negar a obediência ao grão Gupeva."

LII

Deu logo a amiga mão com grato aspecto
Ao mísero Gupeva, que, convulso
No horror daquele ignívomo prospeto,
Jazia sem sentido e já sem pulso.
" Não temas (diz-lhe), amigo, que eu prometo
Que do meu braço se não mova impulso
Senão contra quem for tão temerário
Que sendo-te eu amigo, é teu contrário."

LIII

Recebera o bom Gupeva um novo alento,
Sentindo a grata mão que à vida o chama;
Nem pode duvidar pelo exprimento
De quando Diogo com fineza o ama.
Mas, sempre com receio do instrumento,
Teme que outra vez lance, a horrível chama;
E deixa-o no erro Diogo, a fim que incerto,
Nenhum pelo pavor se chegue ao perto.