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LXVI

Vai com o adulto filho a caça ou pesca
O solícito pai pelo alimento;
O peixe à mulher traz e a carne fresca
E à tenra prole a fruta por sustento.
A nova provisão sempre refresca
E dá nesta fadiga um documento,
Que quem nega o sustento a quem deu vida,
Quis ser pai, por fazer-se um parricida.

LXVII

Que se acontece que a enfermar se venha,
Concorre com piedade a turba amiga,
E por dar-lhe um remédio que convenha,
Consultam-no entre si com gente antiga;
Buscam quem de erva saiba ou cura tenha,
Que possa dar alívio ao que periga
Ou talvez sangram numa febre ardente,
Servindo de lanceta um fino dente.

LXVIII

Mas, vendo-se o mortal já na agonia,
Sem ter para o remédio outra esperança,
Estima a bruta gente ação mui pia,
Tirar-lhe a vida com a maça ou lança.
Se morre o tenro filho, a mãe seria
Estimada cruel quando a criança,
Que pouco antes ao mundo dela veio,
Não torna ao seu lugar no próprio seio.