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LXIX

Tal era o povo rude, e tal usança
Se lhe vê praticar no vício iluso:
Tudo nota Diogo, na esperança
De corrigir por fim tão cego abuso.
No lugar da cabana, em que descansa
Menos da gente e multidão confuso,
Põe-lhe a rede Gupeva que o convida
De rica e mole pluma entretecida.

LXX

Mas eis que um grande número o rodeia
De emplumados, feíssimos selvagens;
Ouve-se a casa de clamores cheia,
Costume antigo seu nas hospedagens.
Qualquer chegar-se a Diogo ainda receia,
Por ter visto as horríficas passagens;
Mas mair ma apadu de longe explicam,
E Bem vindo o estrangeiro! significam.

LXXI

Por costumado obséquio os mais luzidos
Tomam Diogo nos braços, e no peito
A frente lhe apertavam comedidos,
Sinal entre eles do hospital respeito.
Tiram-lhe em pressa as roupas e vestidos,
E, pondo-o sobre a rede, como em leito,
Sem mais dizer-lhe nada e sem ouvi-lo,
Tudo se afasta e deixam-no tranqüilo.