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LXXXIV

No raio deste heróico pensamento,
Entanto Diogo refletiu consigo,
Ser para a língua um cômodo instrumento
Do céu mandado na donzela amigo.
E, por ser necessário ao santo intento,
Estuda no remédio do perigo:
"- Que pode ser? sou fraco; ela é formosa...
Eu livre... ela donzela... Será esposa."

LXXXV

"- Bela (lhe disse então), gentil menina,
(Tornando a si do pasmo, em que estivera)
Sorte humana não é, mas é divina,
Ver-me a mim, ver-te a ti na nova esfera.
Ela a frase, em que falo aqui te ensina;
Ela, se não me engana o que alma espera,
Um fogo em nos acende, que de resto
Eterno haja de arder, se arder honesto.

LXXXVI

Desde hoje se a meus olhos corresponde
O meigo olhar das lúcidas pupilas,
Se amor é... porque amor quem é que o esconde?
Se por ele essas lagrimas destilas,
Com que chamas meu peito te responde,
Com mão de esposa poderás senti-las."
Disse; estendendo a mão, ofereceu-lha;
Ela, que nada diz, sorriu-se e deu-lha.