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XII

"Não deixa nunca os seus o céu piedoso
(Diogo respondeu) que à terra indigna
Manda o seu Unigênito glorioso
Que ofereça, a quem o invoca, a mão benigna;
Mas, se antevisse no homem pernicioso
Uma livre eleição sempre maligna,
Por dar-lhe menos pena em menor falta
Em sombra, como a voz, deixa tão alta.

XIII

Tendes entanto um claro sentimento,
Que espírito imortal se nos concede..."
"Sim, diz Gupeva, que o decide atento
Quem tudo quanto sente parte ou mede.
Mas mirando ao seu próprio pensamento,
Vê que a medida sempre intato excede;
E sendo Indivisível desta sorte,
Como pode a razão sofrer a morte?

XIV

Quantas vezes em mim, se ser pudesse,
Um pensamento d'alma eu dividira!
Que todo o mal enfim que o homem padece
Vem da imagem cruel, que dentro gera.
mas a interna impressão tanto mais cresce
Quanto o peito ansiado mais suspira;
E vejo que há em mim mesmo oculto e interno
Entre a mente e a verdade um laço eterno.