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XXXIII

Vêem-se dentro campinas deleitosas,
Geladas fontes, árvores copadas,
Outeiros de cristal, campos de rosas,
Mil frutíferas plantas delicadas;
Coberto o chão das frutas mais mimosas,
Com mil formosas cores matizadas;
E, à maneira, entre as flores, de serpentes,
Vão volteando as líquidas correntes.

XXXIV

Latadas de martírios há sombrias,
Que com a rama e flor formam passeios,
Onde passam sem calma os claros dias
Gozando sem temor de mil recreios.
Chuvas ali não há, nem brumas frias,
Nem das procelas hórridas receios;
Nem há na primavera e verdes maios
Quem receie o trovão, nem tema os raios.

XXXV

Entre o sussurro ali das fontezinhas,
Harmônica se escuta a voz sonora,
Com que mil inocentes avezinhas
Entoam a alvorada à fresca aurora;
Muitas com vôos vão ao céu vizinhas,
Outra segue o consorte, a quem namora,
E mil doces requebros gorjeando,
De raminho em raminho vai saltando.