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XLII

" Que valem (disse ao bárbaro ignorante)
Jardins, flores, delicias e prazeres,
Faltando o objeto enfim mais importante,
Que é a face de Tupá? pois de a não veres,
Todo outro bem, que gozes por brilhante,
Por belo, por maior que o conceberes,
Para a nossa cobiça mal saciada
É vil, é vão, é pouco, é fumo, é nada.

XLIII

Finge que possa o homem gozar junto
Destes bens cá da terra um vasto rio,
Quanto Deus criar pode, tudo e munto;
Quem dele não gozar fica vazio;
Se o mundo a uma alma basta eu não pergunto:
Que ela goze infinitos sempre eu fio
Que. qual hidropisia verdadeira,
Quantos mais possuir, tanto mais queira.

XLIV

Toda essa glória, que me tens pintado,
Sem mais que um bem do mundo circunscrito,
Não é, Gupeva meu, mais que um bocado
Para quem só se farta do infinito;
E quando tudo o mais se haja logrado,
Se é um bem transitório, se é finito,
Em breve hás de sentir, e sem remédio,
Do futuro ânsia e do parado tédio.