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CARTAS DE INGLATERRA

rancor da parcialidade partidaria. Uma coisa porém tinha a seu favor: é que todos os mediocres o detestavam.

É difficil, de resto, separar n’elle o politico do romancista: sempre fez politica nas obras d’arte, que se tornavam assim resoantes manifestos das suas idéas de estadista — e fez romance no governo, que parecia muitas vezes um scenario de drama, sobre o qual elle estava de penna na mão, combinando os lances d’effeito. Seja como fôr, a Inglaterra perdeu nele um dos seus genios mais pittorescos e mais originaes.

 

Individualmente foi um feliz. Tendo, em novo, lançado o plano da sua vida futura, como quem prepara um enredo de romance, realisou-o plenamente em todos os pontos, n’um continuo triumpho. Foi formoso, foi amado, foi rico, teve a melhor esposa de Inglaterra (como elle dizia), deixou uma vasta obra litteraria, foi o confidente escolhido da sua rainha, governou a sua patria, pesou nos destinos do mundo, e findou n’uma apotheose. Foi então absolutamente, ininterrompidamente, ditoso? Não. Este homem triumphante viveu acompanhado d’um secreto, d’um pequenino, d’um ridiculo desgosto: nunca pôde fallar bem francez!