Página:Cartas de Inglaterra (Eça de Queirós, 1905).djvu/174

Wikisource, a biblioteca livre
CARTAS DE INGLATERRA
159

grilhão de ouro sobre o collete denotado e brilhantes, talvez verdadeiros, n’uma camisa de oito dias! Que intrujão! que bandido! Como aquillo rolara por todas as trapaças, todos os deboches do littoral levantino! O bom era ouvil-o fallar do Egypto como de um paiz conquistado, terra de ilotas que tinha obrigação de o vestir, de o calçar, de lhe encher a bolsa a elle, e aos outros que o applaudiam em torno da mesa redonda, todos europeus, agenciadores, empregadotes, simples vadios, todos de grilhões de ouro no relogio, de collarinho decotado, o carão resudando vicio, o fallar parlapatão, galãs de espelunca...

L’arabe, monsieur, dizia-me este equivoco personagem, n’um francez do Pireu, ce n’est qu’une infecte canaille!

O infecto canalha eras tu, livido grego!

É evidente que o que tornou Arabi mais popular no Egypto, foi a sua hostilidade aos estrangeiros. O Egypto para os egypcios! Esta phrase, todo um programma, calou fundo no animo do povo inteiro.

O Egypto para os egypcios — não para os empregados estrangeiros, nem para os agiotas estrangeiros...

Ah! esta questão dos credores! A famosa questão da divida egypcia! Em que gastou Ismail-Pachá esses centenares de milhões que a Europa lhe emprestou,